sexta-feira, janeiro 14

Mães Sobrecarregadas...

6.2. O ônus feminino na monoparentalidade

Na monoparentalidade, a ala feminina é quem mais arca com o peso deste fenômeno. Independente do fator determinante da família monoparental, o encargo, geralmente, é enfrentado pelas mulheres. Quando tal entidade familiar advém da ruptura do casamento, na maioria das vezes, a prole fica sob a tutela da mulher. Em se tratando, das uniões livres, do celibato e das mães solteiras não há o que se discutir, pois a liberdade de formalidades dessas relações não impõe o caráter de responsabilidade sobre os filhos dela oriundos, mesmo que a legislação prescreva o contrário. E por fim, acerca da viuvez, o número de mulheres nesta condição é bem maior que o de homens, como visto anteriormente.
Diante deste contexto, se pode afirmar que a maioria dos problemas da monoparentalidade são enfrentados pela ala feminina. Estes são expressos nos planos econômico, social e emocional dessas “chefes de família”. Sem dúvidas o setor econômico é o mais afetado. De acordo com o supramencionado, a pensão alimentícia não deixa de ser uma solução, quando não se torna um problema. Entretanto, a situação problemática da mulher não se resume a pensão.

Dividindo as mulheres por faixa etária pode-se perceber que todas as situações decorrem de um mesmo problema, o difícil acesso ao mercado de trabalho. As jovens enfrentam o problema da gravidez na adolescência, que de acordo com a mídia aumenta a cada dia. Isto acarreta baixo nível de instrução, e conseqüentemente, uma insignificante qualificação e a ausência de experiência profissional.

As mulheres de idade média, por razão de separação ou divórcio, são sub-divididas em duas categorias: as que têm nível de instrução adequado (de 2º grau a 3º grau conclusos) e as que não o possuem (no máximo 1º grau concluso). A primeira categoria possui ou está a procura de emprego, mas o custo de vida, dela e da prole, é elevado o que pode acarretar dupla jornada de trabalho. Geralmente, essas mulheres são profissionais liberais. A segunda categoria, por não possuir instrução suficiente, não encontram empregos e, se encontram, as remunerações dos mesmos não garantem uma boa condição de vida. Geralmente esse grupo é constituído de operárias e empregadas domésticas, etc.

As mulheres de idade avançada adentram na monoparentalidade através da viuvez, estas sim, estão desamparadas. O fato é que tais mulheres pertencem a uma época onde o seu papel central era cuidar do marido, dos filhos e da casa. Possuindo, normalmente, o grau de instrução limitado e inaptidão para o trabalho devido a pouca ou nenhuma experiência e idade avançada, estas mulheres sobrevivem da pensão por morte do INSS (quando o benefício existe) ou ocupam os mesmos cargos do grupo anterior.

No setor social ocorre o problema da discriminação. Este atinge tanto as mulheres, quanto os seus filhos. No que se refere às mulheres, este preconceito tem maior força nas cidades interioranas. A chefe de família vive um dilema. Caso seja sozinha, não é vista com bons olhos pela sociedade. Caso opte por outra união, sem formalidades, é tida como promíscua.

Em relação aos filhos, o preconceito ocorre, na maioria dentro das escolas. Se forem oriundos de qualquer relacionamento que não seja o casamento, são frutos do pecado, e vivem escutando questionamentos sobre sua paternidade. Se decorrerem de rupturas matrimoniais, são filhos da separação, tidos como problemáticos.

No campo emocional, a monoparentalidade provoca um desgaste crescente na mulher. Ela terá que suprir primeiro as carências afetivas dos seus filhos, em detrimento das suas. A solidão e a depressão são problemas freqüentes, quando decorrentes de divórcios e separações, pois a mesma estava acostumada a uma vida a dois. A procura por um companheiro também desgasta essas chefes de família. Os fatores psicológicos, muitas vezes, influenciam na saúde fisiológica provocando doenças como, por exemplo, o estresse. E devido a todo o abalo emocional de tentar abarcar dois papéis, o de pai e mãe, não sobra para as mulheres tempo para si mesmas. Isto culmina, com o fim da vida sexual. A este respeito E. O Leite (2003, p. 112) diz o seguinte:

No nível pessoal, a monoparentalidade gera uma solidão que atinge tanto o físico, como o psíquico. A vida sexual da mulher sozinha – ao contrário do que ocorre com o homem – fica reduzida a zero, ou porque se estabelece uma grande dependência afetiva entre a mãe e o filho [...] ou porque a sexualidade é vivida como uma preocupação menor [...] ou porque é necessário “respeitar a criança” [...] ou, porque a mãe se torna fiel a um pai mítico [...] ou porque, finalmente um processo de proibição social é interiorizado de tal forma, que as mães se instalam numa “respeitabilidade” de costumes capaz de proteger a imagem da criança no meio social [...]

Atualmente, as mulheres têm buscado melhores condições profissionais e deixado às funções domésticas em segundo plano. Estas passam a ser tarefas de necessário aprendizado, mas não o futuro meio de sustento. O aprimoramento intelectual irá elevar as chances da nova geração de mulheres de ingresso no mercado de trabalho. Já a geração atual, tem de ter ajuda urgente do Poder Público com programas assistenciais a curto e a longo prazo.

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